terça-feira, 26 de junho de 2012

Caravaggio e sua arte de contrastes

A maior exposição em número de obras do artista italiano já realizada na América Latina é inaugurada nesta terça-feira, em Belo Horizonte

Mariana Zylberkan

Tela 'Medusa Murtola', de Caravaggio
Tela Medusa Murtola, de Caravaggio - Divulgação/Coleção privada
A maior exposição do pintor Michelangelo Merisi de Caravaggio (1571-1610) em número de obras já realizada na América Latina abre para o público, nesta terça-feira, em Belo Horizonte.  Caravaggio, considerado o maior representante do estilo barroco, foi mestre na arte de manipular o jogo de luz e sombra, que confere um enorme grau de complexidade à sua obra. São poucos os quadros de Caravaggio que sobreviveram até os dias de hoje, 62 ao todo, e alguns deles ainda passam por avaliação de especialistas para que o período de produção e as condições em que foram realizados sejam comprovados. A obra Medusa Murtola, por exemplo, era considerada uma cópia até recentemente. Só ao fim de trabalhos que duraram 20 anos - com sofisticadas análises em infravermelho - é que sua autenticidade foi comprovada. Estudos comparativos entre Medusa Murtola e a sua segunda versão, creditada como a original por muito tempo pelos historiadores, estão entre os destaques da exposição Caravaggio e Seus Seguidores, que faz parte da programação do Momento Itália-Brasil.
A mostra reúne seis quadros originais do pintor italiano. As obras vieram da Europa em vários voos, já que, por segurança, não é permitido transportar mais de dois Caravaggios num mesmo avião. Em terra, viajaram também em duplas, com escolta armada.
Na exposição do Brasil, o espaço é preenchido por telas dos chamados “Caravaggescos”, seguidores do estilo do artista, como Artemisia Gentileschi, Bartolomeo Cavarozzi, Giovanni Baglione, Hendrick van Somer, Jusepe di Ribera, entre outros.  “Vamos propor ao público uma espécie de jogo dos sete erros entre as duas versões de Medusa Murtola. A experiência é praticamente uma aula sobre o estilo único de Caravaggio”, diz o curador Fábio Magalhães.
Fazem parte da exposição outros trabalhos consagrados de Caravaggio, como São Jerônimo que Escreve, São Francisco em Meditação e Retrato do Cardeal, além de São Januário Degolado e um dublê de São Francisco em Meditação - os dois últimos ainda são considerados um problema para os especialistas, que ainda pesquisam sua autenticidade. Anteriormente, o Brasil havia recebido duas mostras de Caravaggio. A primeira, em 1954, expôs duas obras do artista na Oca, no Parque Ibirapuera, em comemoração ao quarto centenário de São Paulo. A mais recente, A Lição de Caravaggio (lançada em 1998 no Masp), contou com apenas um quadro de sua autoria, Davi com a Cabeça de Golias.

Lado obscuro - Mais do que uma técnica que confere incrível naturalismo aos seus quadros, o jogo de luzes e sombra era usado por Caravaggio para expressar o lado obscuro do ser humano que convive lado a lado com as virtudes de cada um. “Os questionamentos de Caravaggio ainda são atuais”, diz Magalhães. O estilo do artista é reverberado por pintores contemporâneos, como Vik Muniz, Alex Fleming e Gilberto Salvador, que foram influenciados pela redescoberta da obra de Caravaggio nos anos 50 e pela grande visibilidade que ganhou em 2010, na comemoração dos 400 anos de seu nascimento, quando foram organizadas exposições inéditas em Roma e na Rússia.

Caravaggio e Seus Seguidores permanece em cartaz em Belo Horizonte até 15 de julho, quando deixa a capital mineira rumo ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Em seguida, a exposição é montada no Museu Nacional de Belas Artes, em Buenos Aires, na Argentina.

 Okky de Souza
Ambiente
O dogma derrete antes das geleiras
Quem duvida do aquecimento global é tratado como inimigo da
humanidade. Agora, revelações sobre manipulações e fraudes nos
relatórios climáticos mostram que os céticos devem ser levados a sério



Nos últimos anos, a discussão sobre o aquecimento global e suas conseqüências se tornou onipresente entre governos, empresas e cidadãos. É louvável que todos queiram salvar o planeta, mas o debate sobre como fazê-lo chegou ao patamar da irracionalidade. Entre cientistas e ambientalistas, estabeleceu-se uma espécie de fervor fanático e doutrinário pelas conclusões pessimistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU. Segundo elas, ou se tomam providências radicais para cortar as emissões de gases do efeito estufa decorrentes da atividade humana, ou o mundo chegará ao fim do século XXI à beira de uma catástrofe. Nos últimos três meses, numa reviravolta espetacular, a doutrina do aquecimento global vem se desmanchando na esteira de uma série de escândalos. Descobriu-se que muitas das pesquisas que dão sustentação aos relatórios emitidos pelo IPCC não passam de especulação sem base científica. Pior que isso: os cientistas que conduzem esses estudos manipularam dados para amparar suas conclusões.
O primeiro abalo na doutrina do aquecimento global se deu no fim do ano passado, quando um grupo de hackers capturou e divulgou mais de 1 000 e-mails trocados entre cientistas ligados à Universidade de East Anglia, na Inglaterra, o principal centro mundial de climatologia. As mensagens revelam que cientistas distorceram gráficos para provar que o planeta nunca esteve tão quente nos últimos 1 000 anos. As trocas de e-mails também mostraram que os climatologistas defensores da tese do aquecimento global boicotam os colegas que divergem de suas opiniões, recusando-se a repassar dados das pesquisas que realizam. Os e-mails deixam claro, ainda, que o grupo dos catastrofistas age para tentar impedir que os céticos (como são chamados os cientistas que divergem das teses do IPCC) publiquem seus trabalhos nas revistas científicas mais prestigiadas.
O climatologista inglês Phil Jones, diretor do Centro de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, sumo sacerdote do dogma da mudança climática e responsável pelos e-mails mais comprometedores, protagonizou o episódio mais dramático de reconhecimento de que muito do que divulga o IPCC não passa de má ciência. Em entrevista concedida depois de se tornar público que ele próprio tinha manipulado dados, Jones admitiu que, em dois períodos (1860-1880 e 1910-1940), o mundo viveu um aquecimento global semelhante ao que ocorre agora, sem que se possa culpar a atividade humana por isso. O climatologista reconheceu também que desde 1995 o mundo não experimenta aquecimento algum.

UM TOM ACIMA
O climatologista Phil Jones: admissão pública
de manipulação nos
relatórios do IPCC
A reputação do IPCC sofreu um abalo tectônico no início do ano, quando se descobriu um erro grosseiro numa das pesquisas que compõem seu último relatório, divulgado em 2007. O texto afirma que as geleiras do Himalaia podem desaparecer até 2035, por causa do aquecimento global. O derretimento teria conseqüências devastadoras para bilhões de pessoas na Ásia que dependem da água produzida pelo degelo nas montanhas. Os próprios cientistas que compõem o IPCC reconheceram que a previsão não tem o menor fundamento científico e foi elaborada com base em uma especulação. O mais espantoso é que essa bobagem foi tratada como verdade incontestável por três anos, desde a publicação do documento.
Não demorou para que a fraude fosse creditada a interesses pessoais do presidente do IPCC, o climatologista indiano Rajendra Pachauri, cuja renúncia vem sendo pedida com veemência por muitos cientistas. Pachauri é diretor do instituto de pesquisas Teri, de Nova Délhi, agraciado pela Fundação Carnegie, dos Estados Unidos, com um fundo de meio milhão de dólares destinado a realizar pesquisas... nas geleiras do Himalaia. A mentira sobre o Himalaia já havia sido denunciada por um estudo encomendado pelo Ministério do Ambiente da Índia, mas o documento foi desqualificado por Pachauri como sendo "ciência de vodu". Os relatórios do IPCC são elaborados por 3 000 cientistas de todo o mundo e, por enquanto, formam o melhor conjunto de informações disponível para estudar os fenômenos climáticos. O erro está em considerá-lo infalível e, o que é pior, transformar suas conclusões em dogmas.

artes

Surgimento e história do movimento surrealista
O surrealismo surgiu na França na década de 1920. Este movimento foi significativamente influenciado pelas teses psicanalíticas de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano.
 De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente. O pai da psicanálise, não segue os valores sociais da burguesia como, por exemplo, o status, a família e a pátria.

O marco de início do surrealismo foi a publicação do Manifesto Surrealista, feito pelo poeta e psiquiatra francês André Breton, em 1924. Neste manifesto, foram declarados os principais princípios do movimento surrealista: ausência da lógica, adoção de uma realidade "maravilhosa" (superior), exaltação da liberdade de criação, entre outros.
Os artistas ligados ao surrealismo, além de rejeitarem os valores ditados pela burguesia, vão criar obras repletas de humor, sonhos, utopias e qualquer informação contrária a lógica.
Outros marcos importantes do surrealismo foram a publicação da revista A Revolução Socialista e o segundo Manifesto Surrealista, ambos de 1929. Os artistas do surrealismo que de destacaram mais na década de 1920 foram: o escultor italiano Alberto Giacometti, o dramaturgo francês Antonin Artaud, os pintores espanhóis Salvador Dalí e Joan Miró, o belga René Magritte, o alemão Max Ernst, e o cineasta espanhol Luis Buñuel e os escritores franceses Paul Éluard, Louis Aragon e Jacques Prévert.
A década de 1930 é conhecida como o período de expansão surrealista pelo mundo. Artistas, cineastas, dramaturgos e escritores do mundo todo assimilam as idéias e o estilo do surrealismo. Porém, no final da década de 1960 o grupo entra em crise e acaba se dissolvendo.
ARTES PLÁSTICAS
Foi através da pintura que as idéias do surrealismo foram melhor expressadas. Através da tela e das tintas, os
artistas plásticos colocam suas emoções, seu inconsciente e representavam o mundo concreto.

O movimento artístico dividiu-se em duas correntes. A primeira, representada principalmente por Salvador Dalí, trabalha com a distorção e justaposição de imagens conhecidas. Sua obra mais conhecida neste estilo é A Persistência da Memória. Nesta obra,  aparecem relógios desenhados de tal forma que parecem estar derretendo.
Os artistas da segunda corrente libertam a mente e dão vazão ao inconsciente, sem nenhum controle da razão. Joan Miró e Max Ernst representam muito bem esta corrente. As telas saem com formas curvas, linhas fluidas e com muitas cores. O Carnaval de Arlequim e A Cantora Melancólica, são duas pinturas de Miró que representam muito bem esta vertente do surrealismo.
LITERATURA 
Os escritores do surrealismo rejeitaram o romance e a poesia em estilos tradicionais e que representavam os valores sociais da burguesia. As poesias e textos deste movimento são marcados pela livre associação de idéias, frases montadas com palavras recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e idéias do inconsciente. O poeta Paul Éluard, autor de Capital da Dor e André Breton, autor de O Amor Louco, Nadja e Os Vasos Comunicantes, são representantes da
literatura surrealista.

CINEMA
 
Os cineastas também quebraram com o tradicionalismo cinematográfico. Demonstram uma despreocupação total com o enredo e com a história do filme. Os ideais da burguesia são combatidos e os desejos não racionais afloram. Dois filmes representativos deste gênero do
cinema são Um Cão Andaluz (1928) e L'Âge D'Or (1930) de Luis Buñuel em parceria com Salvador Dalí.
TEATRO
O dramaturgo francês Antonin Artaud é o maior representante do surrealismo no teatro, através de seu teatro da crueldade. Artaud, buscava através de suas peças teatrais, livrar o espectador das regras impostas pela civilização e assim despertar o inconsciente da platéia. Um das técnicas usadas pelo dramaturgo foi unir palco e platéia, durante a realização das peças. No livro O Teatro e seu duplo, Arnaud demonstra sua teoria.
Sua obra mais conhecida é Os Cenci de 1935, onde ele conta a vida de uma família italiana durante a fase do Renascimento.
Nas décadas de 1940 e 1950, os princípios do surrealismo influenciaram o teatro do absurdo.
O SURREALISMO NO BRASIL 
As idéias do surrealismo foram absorvidas na década de 1920 e 1930 pelo movimento modernista no Brasil. Podemos observar características surrealistas nas pinturas Nu e Abaporu de Ismael Nery e da artista Tarsila do Amaral, respectivamente.
A obra Eu Vi o Mundo, Ele Começava no Recife, do artista pernambucano Cícero Dias, apresenta muitas características do surrealismo. As esculturas de Maria Martins também caminham nesta direção.
http://www.suapesquisa.com/surrealismo/

artes

Arte: O surrealismo de Giorgio de Chirico.       

Giórgio de Chirico (também conhecido como Népoli)  é um artista grego, nascido em 1888 na cidade de Vólos. É considerado o percursor do Surrealismo e também fez parte de um movimento chamado Pintura metafílistica. Suas obras carregadas de misterio e muitos elementos diversos ou simplesmente um vazio, são chocantes e ao mesmo tempo tocantes. Obras do tipo que de primeira vista já marcam a vida de quem as vê. Com seus cenários quase sempre lembrando um crepúsculo, com sombras pesadas e ao mesmo tempo em um ambiente bem iluminado, algumas obras carregam também consigo uma certa solidão. As figuras utilizadas muitas vezes se repetem de tela-a-tela, e também possuem grande semelhança com suas esculturas. Com cores mais próximas do amarelo e marrom, De Chirico consegue manter sua identidade em todas as obras, que por mais carregadas de elementos, possuem um equilibrio ótimo, que agradará a quem ver. Uma das principais características deste artista é a ausencia de rostos, estes são sempre representados vazios, sem nenhuma expressão, o que nos deixa imaginar o que vier a cabeça no momento. Uma obra em que eu destaco se chama Armonia della Solitudine (Harmonia da Solidão), composta de grande quantidade de figuras geométricas e cores amadeiadas (como muitas de suas obras) e não possui nenhuma pessoa, apenas a solidão harmonizada da forma em que o artista quis representa-la. As suas obras estiveram no MASP em São Paulo ainda esse ano, e com certeza foi marcante pra qualquer um que pôde ver.



artes

Caravaggio
Michelangelo Merisi, mais conhecido por Caravaggio, nasceu em Porto Ecole em 1571, e faleceu no mesmo local em 1610. Foi pintor italiano identificado com o período final do Renascimento e com o barroco.

Embora tenha vivido a transição entre o Renascimento e o Barroco (já que nasceu poucos anos depois da morte de Leonardo Da Vinci), a sua obra enquadra-se bem neste último, sempre obscura e pesada retratando cenas ou personalidades bíblicas.

No entanto, Caravaggio tomava emprestada a imagem de pessoas comuns das ruas de Roma para retratar Maria e os apóstolos. Talvez tenha sido um dos primeiros artistas a saber conciliar a arte com o ministério de Jesus que aconteceu exatamente entre pescadores, lavradores e prostitutas.

Caravaggio levou este princípio estético às últimas conseqüências, a ponto de ter sido acusado de usar o corpo de uma prostituta fisgada morta do rio Tibre para pintar a Morte da Virgem.

Esta foi uma das duas mais importantes características das suas pinturas: retratar o aspecto mundano dos eventos bíblicos usando o povo comum das ruas de Roma.

A outra característica marcante foi a dimensão e impacto realista que ele deu aos seus quadros ao usar um fundo sempre raso, obscuro, muitas vezes totalmente negro e agrupar a cena em primeiro plano com focos intenso de luz sobre os detalhes, geralmente os rostos. Este uso de sombras e luz é uma das coisas mais marcantes em seus quadros que de certa forma nos atrai para dentro da cena como fica bem demonstrado pela Ceia na Casa de Emmaus. Os efeitos de iluminação que Caravaggio criou recebeu um nome específico: tenebrismo.

"Não sou um pintor valentão, como me chamam, mas sim um pintor valente, isto é: que sabe pintar bem e imitar bem as coisas naturais." Assim Caravaggio se manifestou perante o tribunal que julgou a primeira acusação, entre muitas, de perturbar a ordem pública. Jamais parou de crescer seu rol de vítimas com ferimentos leves ou graves, nos duelos em que se envolvia. Os amigos influentes, que intercediam para libertá-lo do cárcere, compunham uma lista bem menor. Com todas as promessas e traições de sua índole turbulenta, Caravaggio os fazia e desfazia com a mesma facilidade: num instante de brilho, num aparte fogoso, numa agressão intempestiva.

Eram palavras sacrílegas na Roma de seu tempo, para a qual não existiam nem a linha reta nem a cor em estado puro. A cidade o atraiu pelos grandes mecenas, pelo fausto da corte papal, pelo passado artístico. Mas agora Caravaggio cuspia nas estátuas clássicas e declarava nada ter a aprender com elas. Não lhe interessava mais a Roma sepultada pelos séculos, que o Renascimento tentou ressuscitar com o mito do homem heróico. Preferiu a humanidade vulgar mas atual das feiras e tavernas: vendedores de frutas, músicos ambulantes, ciganos e prostitutas.

Ao tomar essa humanidade como modelo, aproximou-se mais de Leonardo da Vinci, para quem a pintura era uma forma de especular a natureza, do que a Michelangelo ou Rafael, cultores de uma arte épica e monumental. "Inventor" da natureza-morta, pelo menos na Itália, Caravaggio formulou um naturalismo diametralmente oposto ao estilo maneirista dos fins do século XVI. Introduziu um tratamento revolucionário da luz, com prisma que decompõe e geometrizou os componentes de um quadro, lição aproveitada mais tarde por um Rembrandt ou um Vermeer, e levada às últimas conseqüências pelo cubismo de Paul Cézanne. Passou, portanto, breve mas fulgurante pelos céus da pintura, como clarão que tudo ilumina antes de extinguir-se.

Na pia batismal, ele recebeu o nome ilustre de Michelangelo, da família Merisi, residente na paróquia de San Giorgio, junto ao Paço Bianco di Caravaggio. Era uma pequena aldeia lombarda, cujo nome depois adotou. O pai tinha a profissão de maestro de casa - equivalente a "mestre obras" -, e ficou contente quando inscreveu o menino de onze anos no atelier de Simone Peterzano. Era a melhor maneira de livrar-se das traquinadas de quem não queria ajudar nas construções e constantemente fugia da escola para brigar na rua ou gazetear no campo.

Parece que ao entregá-lo a Peterzano, pintor modesto que se intitulava "discípulo de Ticiano", a família se desinteressou do rapaz. Nada se sabe a seu respeito até 1588 ou 1589, quando Caravaggio, aos quinze ou dezesseis anos, fugiu para Roma. O primeiro período na capital foi duríssimo. Boêmio e desordeiro, tinha dificuldade em adaptar-se à mediocridade dos pintores oficiais, ávidos de encontrar favores junto aos poderosos. O adolescente de cabelos ruivos passou de um atelier a outro, de um protetor a outro. Um
destes, Monsenhor Pucci, lhe deu alojamento e uma dieta exclusiva de verduras. Recebeu em troca alguns quadros e o apelido de "Monsenhor Salada".

Um ataque de malária levou o jovem ao hospital. Em poucas semanas, ainda debilitado pela doença, ele teve que procurar novos empregos. Ofereceu-se a contragosto ao Cavaliere d’Arpino, apreciador da pintura que já detestava: grandiloqüente, alambicada, de temas mitológicos tratados com ênfase teatral e linhas rebuscadas, como nos quadros de Carracci. A ruptura é quase imediata: proibido de pintar figuras, Caravaggio abandonou o míope mecenas e freqüentou novamente a gentalha que vegetava à sombra de magníficos palácios e barrocas igrejas.

Após uma seqüência de rusgas, o primeiro processo por difamação. Frente ao juiz, Caravaggio se defendeu com arrogância. E um outro escândalo veio somar-se a este. O deus do vinho e das orgias - Baco para os romanos, Dioniso para os gregos - foi pintado com ar de travesti ou de gueixa japonesa, o corpo molemente inclinado, a oferecer uma taça e seus encantos de hermafrodita. É o conflito aberto e radical com os cânones artísticos da época, e também a divisão inconciliável entre admiradores e inimigos.

O Repouso no Egito desencadeou essa tempestade que não se amainaria enquanto o pintor viveu. Encomendada pelo Cardeal Francesco Maria Del Monte, foi uma interpretação extremamente livre do conhecido tema sacro.

Sem apelar a um realismo excessivo, poetizando sua visão do homem e da natureza, Caravaggio fez uma pequena concessão ao gosto clássico: colocou um jovem semi-despido ornado de asas que lhe conferiram o aspecto de anjo musicista. São José lhe erguia a partitura, enquanto a Virgem - tão diferente das Virgens de Rafael - embalava o Menino Jesus num gesto trivial. A luz que jorrava sobre as faces e sobre os panos já antecipava a descoberta de Cézanne: a cor de um objeto determinada pela fusão da cor que lhe é própria com o raio de luz que nele incide. Porém Caravaggio teve da luz não só um conceito colorista, herdado dos venezianos de que era discípulo seu primeiro mestre em Milão, como também um conceito nitidamente plástico. Suas figuras destacaram-se pelo ritmo dos gestos, pelo relevo quase físico das formas. Os elementos acessórios do quadro - flores, regato, mochila, folhas - foram reproduzidos com a minúcia reveladora de um amor panteísta a cada ente da natureza.

Em Jovem Mordido por um Lagarto, a mesma atenta observação dos reflexos da luz sobre a água contida num vaso de flores casou-se a uma precoce e realista caracterização pessoal do personagem, que externou o espanto, a dor, o arrebatamento que o próprio pintor conheceu diariamente.

Igualmente, a Santa Catarina de Alexandria mostrava sua independência em relação à representação católica tradicional. Os personagens sacros viviam e agiam num plano humano, não em estado hierático. Sem mobilizar céus ou nuvens, arcanjos ou santos, o pintor realizava uma severa síntese: o fundo passava a ser quase uniformemente escuro, e toda atenção se concentrava na figura, incontestavelmente santa, mas de uma santidade conquistada a partir do caráter humano.

Desde logo, essa teoria e essa prática tornaram Caravaggio o primeiro "pintor maldito" da era moderna, aquele que não falava mais o idioma pictórico seu contemporâneo, mas a linguagem futura da arte. Pelas mãos do amigo e protetor Del Monte, freqüentou ambientes cultos e refinados. Mas foi capaz de abandonar uma recepção aristocrática para confraternizar com a pequena burguesia ou a ralé que se reunia nas 1022 tavernas romanas, comendo bem e barato, fumando e discutindo ruidosamente até alta madrugada. Ligou-se por amizade ao criador do Marinismo, o poeta Marino, do qual divergiu em estilo e em gosto. Mas não reconheceu regras invioláveis, e testemunhou toda a violência de seu tempo: as lutas religiosas da Contra-Reforma, as execuções públicas de parricidas como Beatrice Cenci, decapitada, ou de heréticos como Giordano Bruno, queimado vivo.

Era uma violência que também estava em seu sangue e lhe armava ciladas arriscadas. Tornou-se conhecido, em Roma inteira, pelas roupas extravagantes. Usava os primeiros chapéus de feltro com abas largas. Exibia uma espada na cintura e um cachorro no colo. Era constantemente chamado à polícia e encarcerado por causa de rixas sangrentas.

Guiado pela veia popular, infundiu a seus temas um ambiente ou uma caracterização humana tipicamente plebéia, combinando o sagrado e o profano. Sem o nu habitual nessas composições, sem atavios elegantes, seu Narciso voltou a ser o adolescente da tradição popular helênica. E o monumental afresco Vocação de São Mateus, que pintava na Igreja de São Luís dos Franceses, na barroca e imensa Praça do Povo, podia ser comparada aos de Piero della Francesca, em Arezzo, ou aos de Michelangelo no Vaticano. Como Deus animando Adão na obra de Michelangelo para a Capela Sistina, Jesus apontava para o velho e barbudo Mateus, ordenando que O seguisse. E tudo se passava num botequim, em meio a um prosaico jogo de cartas: estupefação geral perante essa heresia, como se os apóstolos não fossem buscados nos refúgios de sua humílhima condição social. Havia uma luz que se esbatia sobre as fisionomias para modelá-las corporeamente e envolvê-las numa aura imaterial. Havia uma singular variedade de expressões: a dúvida de Mateus quanto ao endereço do chamado, a expectativa dos jovens à direita, a indiferença do outro à esquerda, absorto no jogo. Havia uma serenidade levemente desfeita pelo apelo da mão.

Já o Martírio de São Mateus se caracterizava pelo dinamismo. A figura do carrasco, que brutalmente arrebatava o ancião adormecido para assassiná-lo, é como eixo de uma roda humana, na qual se refletiam as mais diferentes atitudes diante da morte: desde a impassibilidade do jovem ricamente vestido, até o grito de horror do menino que foge, e o socorro sobrenatural trazido pelo anjo. Mas a carnalidade palpitante dos nus, ao lado da originalidade da concepção, despertou a reprovação de muitos.

Em 1601, depois de mais uma reconciliação com seus ofensores, Caravaggio pareceu tranqüilo. Não se irritava quando uma obra para a Igreja de Santa Maria del Popolo era recusada, juntamente com outra, que reproduz o martírio de São Pedro, crucificado de cabeça para baixo. A primeira das recusadas, a Conversão de São Paulo, representou outra revolução na iconografia religiosa. "Onde está o santo?" - indagavam os maus entendedores – “Aqui só se vê um cavalo!" Escapava-lhes tanto a simbologia do momento - quando São Paulo, o homem, caiu ao chão ofuscado pela visão de Jesus, na estrada de Damasco - como também a expressiva beleza transcendente que brotava do vago foco de luz vindo de cima, a banhar o ventre do cavalo e inundar de claridade o rosto do santo. Colocando o centro do afresco no chão, Caravaggio documentava a insignificância do homem perante a divindade.

A Crucificação de São Pedro era toda em diagonais agudas que se entrechocavam, simbolizando o conflito da brutalidade com a pureza. A colocação destacada, em primeiro plano, do traseiro de um dos algozes mereceu a acusação de vulgaridade. Na Deposição de Cristo, acentuavam-se os elementos popularescos. A figura de Maria Cléofas, na extrema direita, que abriu os braços num gesto incomum em Caravaggio, foi considerada por críticos autorizados como um adendo posterior e anônimo. Tal posição foi confirmada pela famosa cópia desse quadro feita por Rubens e que excluiu essa figura. Embora relativamente inferior, a tela apresentava notável realismo nas pernas dos santos atendentes, com as veias saltadas pelo esforço, e no rosto envelhecido da Virgem. "Como ela devia ser exatamente", dizia o pintor quando, mais afável, se dignava a explicar um pouco sua concepção da divindade que se encarnava temporariamente como criatura mortal, assim vulnerável a todos os malefícios da carne.

São Jerônimo traduziu a austeridade do personagem nas próprias cores e linhas: o dinamismo se limitou ao braço estendido do eremita; o cromatismo se reduziu ao vermelho de seu manto e a dois tons de marrom e amarelo-pálido, com toques de branco; a caveira era uma advertência moral.

Davi com a Cabeça de Golias combinava a violência com um de seus temas permanentes: a beleza equívoca do adolescente. A tradição afirmava ser a cabeça decepada do gigante um auto-retrato de Caravaggio, expressivo do desalento em que viveu seus últimos anos, atormentado pela perseguição inclemente dos adversários.

A Ceia em Emaús foi feita em seguida à representação do mesmo tema com o Cristo totalmente imberbe. Os que se escandalizaram ignoravam a tradição bizantina que mostrava Cristo, de preferência adolescente, como que simbolizando fisicamente a eterna juventude e validez da Sua mensagem. Mas Caravaggio não dava importância à ira dos que consideravam seus quadros "heréticos": ele já não havia pintado uma morte da Virgem Maria que a mostrava com o ventre inchado, os pés para fora do leito, como uma mulher da plebe que sucumbisse de inanição ou de parto, numa atmosfera carregada de miséria?
Esta ceia - sem a pompa de um Tiepolo ou um Veronese - apresentava os santos como figuras do povo, campônios rudes mas de expressão firme. A luz que inundava a cena antecipava de um século o chiaroscuro de Rembrandt ou o tratamento requintado de Vermeer.

A trajetória de Caravaggio aproximava-se do fim. Em Roma, corroído de dívidas, recusou a oferta do Príncipe Doria Pamphili para decorar uma parte de seu palácio, hoje sede da embaixada brasileira na Itália. Insistiu em pintar "quadros verdadeiros", certo de encontrar compradores e assim melhorar de situação. Foi dessa fase a Virgem do Rosário, também denunciada por "vulgaridade". Pecou apenas, porém, pelo excesso maciço e confuso de personagens, enquanto Virgem de Loreto caracterizava-se pela sobriedade clássica, pelo realismo das poucas figuras retratadas, e pela ausência de qualquer sentimentalismo no orgulho da mãe que apresentava o filho à veneração de dois humildes peregrinos. Na Adoração dos Pastores, Caravaggio atingiu talvez o ponto supremo de uma pintura sacra ortodoxa que constituiu exceção dentro de sua tendência sempre inovadora.

Da Adoração dos Reis Magos, tradicional na pintura toscana ou norte-européia, a tônica social se deslocou para os pastores, num quadro simples e comovente, onde a intensificação dos tons escuros prenunciava o desenlace fatal de uma vida perigosa.

No turbilhão que o agitava, Caravaggio matou um certo nobre Tommasoni, durante um jogo de pallacorda, antepassado do tênis. Era o último dia do mês de maio de 1606.

Ferido ele próprio, e protegido pela família dos Colonna, escapou para Nápoles, onde muitos admiradores o acolheram. Ali pintou As Sete Obras de Misericórdia, ilustração dos atos de bondade enumerados no Evangelho (dar de beber aos sedentos, consolar os aflitos, etc.), que influiu no desenvolvimento da pintura napolitana, e bem refletiu o momento psicológico do autor: adensavam-se as sombras, acentuava-se o clima dramático.

Enquanto em Roma seu perdão era pleiteado, ele se dirigiu à ilha de Malta, onde recebeu a Cruz de Malta outorgada pelo grão-mestre da Ordem, Alof de Vignacourt, de quem executou dois retratos, além de uma Degolação de São João Batista. Mas, fora de controle, revidou a ofensa de um nobre maltês e foi encarcerado pelo severo regime militar ali vigente. Ajudado por amigos - crê-se que entre eles o próprio Vignacourt -, galgou os muros da prisão e embarcou à noite para a Sicília. Pressentia a vingança no seu encalço. Mudou de cidade seguidamente: de Siracusa a Messina, daí a Palermo, desta a Nápoles, no outono de 1609.

É melancólica sua última obra, dilacerada pelo sofrimento e pela inquietação: A Flagelação. Apenas o Cristo é plenamente iluminado, e irradia parte do brilho em tomo dos algozes, de corpos retesados num bailado grotesco e cruel.

Pela segunda vez, Caravaggio fora abrigado em Nápoles por pessoas influentes, algumas ligadas à própria Ordem de Malta. Mas era tarde: os sicários do cavaleiro maltês ultrajado descobrem seu esconderijo. Perto de uma taverna, ferem-no a espada repetidas vezes. Sua robustez prevalece sobre os graves ferimentos. Recolhido e medicado, parece convalescer. A notícia de que o papa está prestes a conceder-lhe perdão e permitir-lhe o regresso a Roma anima-o a deixar Nápoles por via marítima. Todavia, não totalmente recuperado, vertendo sangue, minado pela malária, ele morre numa praia deserta, no dia 18 de julho de 1610.

Dias depois, junto com a barca onde tinha abandonado seus haveres, chega a Roma apenas um pregão lutuoso:

"Tem-se notícia do falecimento de Michelangelo Caravaggio, pintor famoso como colorista e retratista baseado na natureza..."

Alheio a qualquer maneirismo, mas sensível à interpretação poética e transfiguradora do mundo real, Michelangelo Merisi da Caravaggio foi um artista despojado numa época marcada pelo excesso ornamental barroco. Contra a corrente saudosista de seu tempo, plasmou uma arte arraigadamente humana, realista e original. Seu critério quase "funcional" de pintura, à moderna, teve o condão de enfurecer muitos donos da cultura e árbitros do gosto da época. A esses, Caravaggio sempre deu de ombros: pintava para todos os séculos, não para o seu
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/biografias/c/caravaggio

Artes

Mostra reúne obras de Caravaggio e de seus discípulos
Após dois anos de negociações e três cancelamentos sucessivos, a mostra "Caravaggio e Seus Seguidores" finalmente é inaugurada no Brasil. A partir desta terça-feira e até 15 de julho, a exposição, que traz seis obras do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), entre elas, uma das duas versões de sua famosa "Medusa", e o quadro "São Jerônimo Que Escreve", pertencente, desde o século 17 à Galleria Borghese de Roma, é apresentada na Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte. Depois de Minas, as pinturas de Caravaggio e de 14 pintores caravaggescos, que se inspiraram no mestre precursor do barroco, serão exibidas em São Paulo, no Masp, de 26 de julho a 30 de setembro.

Um pintor que teve a genialidade reconhecida em vida, homem de temperamento "maldito", com sua história sempre contada de maneira romanceada. Apesar de mitos, um fato foi determinante em sua trajetória, o homicídio cometido por ele em 1606 em Roma, forçando-o a iniciar um processo de fuga de sua prisão e condenação à morte - Caravaggio deslocou-se para Nápoles, Malta e Sicília até morrer em circunstâncias ainda não claras em Porto Ercole. Mais do que ser o artista que desenvolveu como poucos a técnica do claro-escuro, conferindo uma beleza intensa de estilo e na escolha dos temas de suas telas, e de ser autor que promoveu experimentações pioneiras, Caravaggio "é um pintor que sabe o drama da existência e o vive e o coloca de maneira realista na sua obra, aproximando-a da realidade de sua vida", diz o curador italiano Giorgio Leone.

Logo na entrada da mostra, duas telas são a encarnação desse duo vida e obra. A principal pintura da mostra, "São Jerônimo Que Escreve" (1605-1606) - que representa o legado da relação do cardeal Camillo Borghese (que se tornou o papa Paulo V) - e "São Francisco em Meditação" (1606), pertencente à Galleria Nazionale d?Arte Antica di Palazzo Barberini de Roma, têm em comum a figura da caveira, símbolo da morte. Na obra de São Jerônimo, o crânio é uma espécie de espelhamento do rosto do santo, que está "inacabado", como diz Giorgio Leone. "Creio que ele não conseguiu terminar a face porque teve de fugir de Roma", conta o curador. Já o São Francisco, "feito já em fuga", segura a caveira na mão, como se tivesse a consciência de seu fim.

Tanto "São Jerônimo" como "São Francisco" são obras que têm a autoria incontestada e histórica atribuída a Caravaggio, desde o século 17, mas as outras pinturas presentes na exposição representam caráter diferente. "A mostra trata dessa questão de autoria", afirma Leone. Para um quadro ser considerado um Caravaggio, deve constar em documentos históricos, corresponder ao estilo do artista e ter sido executado a partir de técnica típica do artista. "Duas obras da mostra, a Medusa Murtola, pertencente a colecionador privado, e Retrato do Cardeal Benedetto Giustiniani, são reconhecimentos recentes, respectivamente, de 2011 e 2010", conta o curador. "E temos duas outras pinturas cuja autoria de Caravaggio é controversa, um exemplar de São Francisco em Meditação pintado em Malta que, para mim, trata-se de uma cópia, e o quadro São Januário (do Museu Diocesano de Palestrina), que alguns estudiosos dizem não ser do pintor."

A mostra, feita com R$ 5,5 milhões incentivados e com recursos próprios da Fiat, depois de São Paulo deve seguir para o Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, mas essa itinerância ainda não está confirmada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://m.estadao.com.br/noticias/arteelazer,mostra-reune-obras-de-caravaggio-e-de-seus-discipulos,876259.htm
O maior ganho da Rio+20
A conferência mostrou um avanço relativo à Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar, visando ao uso sustentável da biodiversidade e conservação oceânica.
Apesar da frustração da opinião pública e ONGs com os resultados da Rio+20, o Brasil teve sua liderança internacional fortalecida, pois conseguiu formalizar e aprovar o texto conclusivo, cujo rascunho sequer estava pronto no dia de abertura da Conferência da ONU. Quem enfatizou isso foi a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em seu pronunciamento no último dia do evento: "Pode ser um momento difícil, mas graças ao Brasil conseguimos nos juntar em um documento final".
A representante de Washington tem razão quanto aos obstáculos conjunturais, pois a crise econômica no Hemisfério Norte prejudicou os avanços dos acordos relativos aos três eixos da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Porém, a diplomacia brasileira conseguiu manter em aberto os princípios mais importantes para a futura viabilização dessas metas, a começar pelo fortalecimento do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), que passará a ter recursos orçamentários próprios, deixando de depender apenas de doações.
Do mesmo modo, foi um avanço o instrumento internacional relativo à Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar, visando ao uso sustentável da biodiversidade e conservação oceânica. A criação do sonhado fundo de US$ 30bilhões para a recuperação ambiental obviamente não se efetivou no presente cenário de crise, mas o princípio ficou em aberto, mantendo-se viva a cobrança às nações desenvolvidas de ressarcimento ao Planeta de toda a devastação que promoveram nos séculos 19 e 20 para enriquecer. Também não se formalizaram medidas práticas para o desenvolvimento sustentável, mas se reiterou o compromisso de novas metas a partir de 2015, quando expiram os Objetivos do Milênio.

 Divulgação


Por outro lado, reuniões paralelas com diferentes legislações criaram novas ou consolidaram alianças que terão continuidade. Exemplo: organizada pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, realizou-se mesa de trabalho conjunta com a delegação russa. Coordenada por mim, esta reunião produziu acordo para exploração sustentável de nossos recursos minerais. Esses entendimentos continuarão em nova rodada, no próximo ano, em San Petersburgo, na Rússia. Outros dois eventos paralelos me chamaram a atenção: o Congresso Mundial sobre Justiça, Governança e Legislação para a Sustentabilidade, no Tribunal de Justiça RJ, e o "Humanidade 2012", no Forte de Copacabana, promovido por entidades da indústria.
Realmente, a Rio+20 não deu respostas efetivas ao mundo à altura dos graves desafios referentes à erradicação da miséria, mudanças climáticas, recuperação ambiental e segurança alimentar. Entretanto, não pode ser considerado um fracasso, pois manteve íntegros e vigentes os compromissos pertinentes a essas conquistas. O seu maior ganho foi mobilizar a opinião pública internacional, e isso é decisivo, pois no planeta das democracias os governantes, mais cedo ou mais tarde, terão de fazer o que a sociedade exigir!
http://www.administradores.com.br/informe-se/cotidiano/analise-o-maior-ganho-da-rio-20/56543/

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Lei Maria da Penha


Conhecida como Lei Maria da Penha a lei número 11.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006; dentre as várias mudanças promovidas pela lei está o aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. A lei entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006, e já no dia seguinte o primeiro agressor foi preso, no Rio de Janeiro, após tentar estrangular a ex-esposa.

A introdução da lei diz:
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.
O nome
O caso nº 12.051/OEA, de Maria da Penha Maia Fernandes, foi o caso homenagem à lei 11.340. Ela foi espancada de forma brutal e violenta diariamente pelo marido durante seis anos de casamento. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la, tamanho o ciúme doentio que ele sentia. Na primeira vez, com arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda, por eletrocussão e afogamento. Após essa tentativa de homicídio ela tomou coragem e o denunciou. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado, para revolta de Maria com o poder público.
Em razão desse fato, o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), juntamente com a vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que é um órgão internacional responsável pelo arquivamento de comunicações decorrentes de violação desses acordos internacionais.
Essa lei foi criada com os objetivos de impedir que os homens assassinem ou batam nas suas esposas, e proteger os direitos da mulher. Segundo a relatora da lei Jandira Feghali “Lei é lei. Da mesma forma que decisão judicial não se discute e se cumpre, essa lei é para que a gente levante um estandarte dizendo: Cumpra-se! A Lei Maria da Penha é para ser cumprida. Ela não é uma lei que responde por crimes de menor potencial ofensivo. Não é uma lei que se restringe a uma agressão física. Ela é muito mais abrangente e por isso, hoje, vemos que vários tipos de violência são denunciados e as respostas da Justiça têm sido mais ágeis.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio+20 em números

CNO Rio+20 
A grandeza da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável não está relacionada apenas ao seu peso político. Os números indicam que este é um dos maiores eventos já realizados no âmbito na ONU, com ampla participação de delegações estrangeiras, Chefes de Estado e representantes da sociedade civil. Confira, abaixo, os números oficiais da Rio+20.
Participantes
  • Público estimado para todo o evento: de 30 mil a 50 mil.
  • Delegações de 193 países.
  • Cerca de 5 mil pessoas trabalham no evento diariamente.
  • Cerca de 6 mil eventos acontecem ao longo dos 9 dias da Conferência.
     
Riocentro / Estrutura do evento
  • Área total de 571 mil m², dos quais 100 mil são de área construída.
  • Estacionamento para 7 mil carros.
  • 7 km de fibra ótica e 205 km de cabo de rede.
  • Internet sem fio de 10 Gbps, para até 32.000 usuários simultâneos.
  • 8 km de cabos telefônicos.
  • Mais de 5000 ativos de TIC (computadores, equipamentos de rede).
  • Capacidade de rede equivalente a de uma cidade de 120.000 habitantes.
  • Infraestrutura compartilhada de 600 estações de trabalho.
  • 200 computadores desktop para compartilhamento no centro de imprensa.
  • Pavilhão 4 do Riocentro com 194 escritórios, número dos países-membros da ONU, mais salas para as agências das Nações Unidas e para o G-77, bloco de países em desenvolvimento.
  • Pavilhão 3 sedia o centro de imprensa e as conferências paralelas, distribuídas em 14 salas de 50 a 500 lugares.
  • Pavilhão 2 abriga a praça de alimentação, com 17 restaurantes.
    36 portais de raio-X.
  • 161 totens (pontos eletrônicos de informação) instalados nos principais hotéis, nos aeroportos e em outros locais da cidade com dados sobre o evento, dicas de turismo na cidade, opções de transporte, agenda da conferência, mapas e outras informações de serviços, tudo em português, inglês e espanhol.
     
Parque dos Atletas
  • Espaço Brasil: pavilhão do Governo Federal brasileiro, com área de 4000 m², distribuídos entre arena central e eixos temáticos.
  • Exposições de 16 empresas parceiras da Rio+20, em área de 5484 m², e da Prefeitura e do Governo do estado do Rio de Janeiro, em 3.146 m².
  • Exposições de 15 municípios, 21 estados, 3 órgãos do Poder Judiciário e 3 do Poder Legislativo, totalizando cerca de 3500 m² de área construída.
  • Exposições de 57 países, em área de cerca de 7000 m²  e 33 organizações internacionais e agências especializadas, com área total de 1.305 m².
     
HSBC Arena
  • Mais de 120 conferências no local, com a presença de 300 palestrantes e debatedores.
  • 10 salas de reunião, sala de vídeo conferência e praça de alimentação.
  • Internet sem fio para até 8000 usuários simultâneos.
     
Pier Mauá
  • Área total utilizada para exposições de 18.500 m².
  • Armazém 1 e espaço adjacente: Sociedade civil. Dividido em diversos estandes de 9m² até 200m² e possui auditório com capacidade para 100 pessoas.
  • Armazém 2: Ministérios das Comunicações, do Desenvolvimento Agrário, da Educação, da Integração Nacional e da Saúde . Exposições de iniciativas sustentáveis e inovações tecnológicas no setor. Área: 3500 m².
  • Armazém 3 e área adjacente: Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Exposições de iniciativas sustentáveis e inovações tecnológicas no setor. Área: 5250 m².
  • Armazém 4 e área adjacente: MCTI.  Exposição de inovação tecnológica. Área: 5.250 m².
     
Transporte para o Riocentro
  • Cerca de 350 ônibus para o transporte de participantes credenciados.
  • 7 linhas ligam Centro, Zona Sul e Barra da Tijuca ao Riocentro.
  • 2 linhas ligam GIG e SDU aos hotéis.
     
Voluntariado
  • 1500 jovens, selecionados entre alunos de cursos técnicos do sistema SENAI/FIRJAN, alunos de escolas públicas fluminenses, universitários e profissionais de todo o país.
  • Cerca de 700 jovens de comunidades vulneráveis foram selecionados.
  • 5% do voluntariado composto por pessoas com deficiência.
     
Hotéis
  • De acordo com Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (ABIH-RJ), a taxa de ocupação dos hotéis é de 95% no período do evento.

domingo, 17 de junho de 2012

Lei Seca


Entenda os principais pontos da Lei Seca
Lei prevê limite de álcool por litro de sangue para os motoristas
SÃO PAULO – Em vigor a Lei 11.705, que prevê mais rigor contra motoristas que ingerirem bebidas alcóolicas. A partir do limite de dois decigramas de álcool por litro de sangue para os motoristas, a pessoa será multado em R$ 955, perde a carteira e tem o carro apreendido. Acima de 6 decigramas – equivalente a uma lata de cerveja -, é crime com pena de até três anos de prisão.
Abaixo, tire as principais dúvidas sobre a nova lei:
Quais os limites de consumo de álcool para quem estiver dirigindo?
Para estar sujeito a responder criminalmente, o limite é de 6 decigramas de álcool por litro de sangue, ou 0,3 miligrama por litro de ar expelido no bafômetro – equivalente a dois chopes. Para punições administrativas, a tolerância é menor: de 2 decigramas por litro de sangue, ou 0,1 miligrama por litro de ar expelido
Quais as penas para quem for flagrado com índices acima desses limites?
Caso seja enquadrado criminalmente, a pena é de 6 meses a 3 anos de prisão, com direito à fiança.
As penalidades administrativas são multa de R$ 955, 7 pontos na carteira e apreensão do documento e do carro
Como o índice de álcool no organismo do motorista será verificado?
De três maneiras: teste do bafômetro, exame de sangue ou exame clínico (quando um médico procura sinais de embriaguez no motorista)
O motorista é obrigado a fazer o teste do bafômetro?
Não. Segundo a Constituição, ninguém é obrigado a produzir prova contra si. Porém, em São Paulo, os delegados foram orientados a encaminhar o motorista, caso se recuse a fazer o teste, ao Instituto Médico-Legal, onde terá, obrigatoriamente, de passar por exames clínicos. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, caso o motorista se recuse, será preso em flagrante por desobediência
Quanto tempo o álcool permanece no sangue após o consumo?
Uma taça de vinho demora cerca de 3 horas para ser eliminada pelo organismo. Uma lata de cerveja, cerca de 4 horas. Ambas as quantias já são flagradas no exame do bafômetro
Caso o motorista seja flagrado com índices superiores de álcool, ele perderá a CNH? Qual o procedimento para tê-la de volta?
A lei prevê suspensão do direito de dirigir por 12 meses. É possível recuperar a carteira recorrendo ao Detran (com a possibilidade de entrar com advogado, testemunhas e peritos que comprovem inocência)
O motorista que estiver embriagado ficará sem a carteira, obrigatoriamente, por algum tempo?
Pode haver espera de até um mês para que o laudo de alcoolemia chegue do IML até o delegado responsável e depois para o Detran. Durante esse período, obrigatoriamente, o motorista ficará sem a CNH
Caso seja flagrado, o motorista terá, obrigatoriamente, seu carro retido?
Não, o veículo pode ser liberado a qualquer pessoa de confiança do motorista que seja julgado em condições de dirigir pelos policiais
O motorista tem de pagar a multa na hora?
Não, será enviada uma autuação ao endereço declarado pelo motorista
Em caso de multa, é possível recorrer?
O motorista pode recorrer de qualquer multa
Quem estabelece o valor da fiança em caso de prisão?
É o delegado quem determina, na hora, o valor da fiança. Para ser solto, é preciso que alguém faça um depósito na conta do Estado, no valor da fiança. De posse do comprovante, o motorista é solto
É possível pagar com cartão de crédito ou débito nas delegacias?
Não, as delegacias não dispõem desse serviço
Alimentos ou remédios que levam álcool podem ser acusados no bafômetro?
Sim, embora a quantidade seja pequena, também podem ser detectados
Como se defender, caso seja multado por algum desses motivos, sem que tenha bebido?
Deve-se explicar a situação ao policial. A interpretação dele também conta na formação de convicção do delegado
Fontes: PM, Abramet, advogados criminalistas Antonio Claudio Mariz de Oliveira e Tales Castelos Branco.