O maior conjunto barroco do mundo. Uma cidade
setecentista
em pleno séc. XXI. Anacronismos à parte, a antiga Vila Rica foi palco da vaidade, da soberba, da competição e da genialidade humana. Sentimentos muito atuais hoje, mas que naquela época eram
traduzidos com estilo, com orgulho. A arte era resultado de
anos, da paciência e da entrega absoluta.
em pleno séc. XXI. Anacronismos à parte, a antiga Vila Rica foi palco da vaidade, da soberba, da competição e da genialidade humana. Sentimentos muito atuais hoje, mas que naquela época eram
traduzidos com estilo, com orgulho. A arte era resultado de
anos, da paciência e da entrega absoluta.
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De nada adianta todo o ouro do mundo se
não é possível ostentá-lo.
Não foi diferente na Vila Rica. A fé
foi uma das válvulas de escape para o poder
acumulado por setores da emergente sociedade mineira
do séc. XVIII. Poderosas e seculares ordens religiosas
retratavam a segmentação da população.
A ordem dos poderosos, dos negros, dos pardos... Cada qual
tinha por finalidade construir a mais bela igreja, demonstrar
sua força e influência. Deu-se início a um tipo
de competição não declarada, cujo combustível
era o metal amarelo, que se esparramou por altares, imagens e demais
instrumentos litúrgicos. Minas vivia uma espécie de Renascimento,
onde figuravam mecenas, desabrochavam as artes e nasciam gênios.
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No vaivém dos telhados, na espremida confusão
do casario geminado. Os palácios, as pontes e os chafarizes...
O barroco europeu aqui chegou e se adaptou.
A geografia conferiu singularidade ao barroco mineiro. A montanha transforma
o espírito, ensimesma a criatividade. Olhando tudo
o que foi construído dá para imaginar o barulho
incessante das ferramentas, igrejas se elevando ao céu, quilômetros
de túneis ocultando conchavos; é isso
que fascina em Ouro Preto.
São muitas e deliciosas histórias. Mestres
como Ataíde, Xavier de Brito, Servas e outros tantos
circulando pelas ruas, quando não estavam enfurnados em
templos, na labuta da arte. O mais conhecido foi Antônio
Francisco Lisboa, eternizado como Aleijadinho, gênio pardo e
acometido de terrível doença deformadora. Aleijadinho
sintetiza a falência do conceito bem e mal. Foi o feio que
produziu o belo, o monstro que produziu anjos... Ouro Preto é
assim: fé interessada, inconfidentes heróis. Quem visita
a cidade deve perceber que ela brinca com referenciais
infantis, abusa e funde contrários.
Na efervescência cultural do séc. XVIII
também têm espaço os poetas, a música e sempre
ela, a política. O amor proibido entre Tomás Antônio
Gonzaga e sua eterna Marília. Ele, nobre e inconfidente;
ela, outrora próxima e agora proibida. Ambos apaixonados.
É atribuída a ele a publicação anônima "Cartas Chilenas",
onde ocultamente denunciava os desmandos do
ex-governador Cunha Menezes, chamado "Fanfarrão Minésio". O mitológico
Chico Rei, monarca na áfrica, escravo em Minas.
Trabalhou nas minas, comprou sua liberdade e a de seus súditos.
Mandou construir seu templo e morreu respeitado. Na Vila Rica o
único valor era o ouro, não importava a que pertencesse.
Em Ouro Preto as paredes falam, cantam seus versos, sufocam a dor.
Revelam mais que sua aparente arquitetura.
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