Okky de Souza
Ambiente
O dogma derrete antes das geleiras
Quem duvida do
aquecimento global é tratado como inimigo da
humanidade. Agora, revelações sobre manipulações e fraudes nos relatórios climáticos mostram que os céticos devem ser levados a sério
Nos
últimos anos, a discussão sobre o aquecimento global e suas conseqüências se
tornou onipresente entre governos, empresas e cidadãos. É louvável que todos
queiram salvar o planeta, mas o debate sobre como fazê-lo chegou ao patamar
da irracionalidade. Entre cientistas e ambientalistas, estabeleceu-se uma
espécie de fervor fanático e doutrinário pelas conclusões pessimistas do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU.
Segundo elas, ou se tomam providências radicais para cortar as emissões de
gases do efeito estufa decorrentes da atividade humana, ou o mundo chegará ao
fim do século XXI à beira de uma catástrofe. Nos últimos três meses, numa
reviravolta espetacular, a doutrina do aquecimento global vem se desmanchando
na esteira de uma série de escândalos. Descobriu-se que muitas das pesquisas
que dão sustentação aos relatórios emitidos pelo IPCC não passam de
especulação sem base científica. Pior que isso: os cientistas que conduzem
esses estudos manipularam dados para amparar suas conclusões.
O
primeiro abalo na doutrina do aquecimento global se deu no fim do ano
passado, quando um grupo de hackers capturou e divulgou mais de 1 000 e-mails
trocados entre cientistas ligados à Universidade de East Anglia, na
Inglaterra, o principal centro mundial de climatologia. As mensagens revelam
que cientistas distorceram gráficos para provar que o planeta nunca esteve
tão quente nos últimos 1 000 anos. As trocas de e-mails também mostraram que
os climatologistas defensores da tese do aquecimento global boicotam os
colegas que divergem de suas opiniões, recusando-se a repassar dados das
pesquisas que realizam. Os e-mails deixam claro, ainda, que o grupo dos
catastrofistas age para tentar impedir que os céticos (como são chamados os
cientistas que divergem das teses do IPCC) publiquem seus trabalhos nas
revistas científicas mais prestigiadas.
O
climatologista inglês Phil Jones, diretor do Centro de Pesquisas Climáticas
da Universidade de East Anglia, sumo sacerdote do dogma da mudança climática
e responsável pelos e-mails mais comprometedores, protagonizou o episódio mais
dramático de reconhecimento de que muito do que divulga o IPCC não passa de
má ciência. Em entrevista concedida depois de se tornar público que ele
próprio tinha manipulado dados, Jones admitiu que, em dois períodos
(1860-1880 e 1910-1940), o mundo viveu um aquecimento global semelhante ao
que ocorre agora, sem que se possa culpar a atividade humana por isso. O
climatologista reconheceu também que desde 1995 o mundo não experimenta
aquecimento algum.
A
reputação do IPCC sofreu um abalo tectônico no início do ano, quando se
descobriu um erro grosseiro numa das pesquisas que compõem seu último
relatório, divulgado em 2007. O texto afirma que as geleiras do Himalaia
podem desaparecer até 2035, por causa do aquecimento global. O derretimento
teria conseqüências devastadoras para bilhões de pessoas na Ásia que dependem
da água produzida pelo degelo nas montanhas. Os próprios cientistas que
compõem o IPCC reconheceram que a previsão não tem o menor fundamento
científico e foi elaborada com base em uma especulação. O mais espantoso é
que essa bobagem foi tratada como verdade incontestável por três anos, desde
a publicação do documento.
Não
demorou para que a fraude fosse creditada a interesses pessoais do presidente
do IPCC, o climatologista indiano Rajendra Pachauri, cuja renúncia vem sendo
pedida com veemência por muitos cientistas. Pachauri é diretor do instituto
de pesquisas Teri, de Nova Délhi, agraciado pela Fundação Carnegie, dos
Estados Unidos, com um fundo de meio milhão de dólares destinado a realizar
pesquisas... nas geleiras do Himalaia. A mentira sobre o Himalaia já havia
sido denunciada por um estudo encomendado pelo Ministério do Ambiente da
Índia, mas o documento foi desqualificado por Pachauri como sendo
"ciência de vodu". Os relatórios do IPCC são elaborados por 3 000
cientistas de todo o mundo e, por enquanto, formam o melhor conjunto de
informações disponível para estudar os fenômenos climáticos. O erro está em
considerá-lo infalível e, o que é pior, transformar suas conclusões em
dogmas.
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