segunda-feira, 17 de setembro de 2012

artes


A influência de Marcel Duchamp na Arte Contemporânea
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Marcel Duchamp, foto de Henri Cartier Bresson
Marcel Duchamp foi um artista que questionou através de seu trabalho o que é uma obra de arte e propôs um novo método para a sua realização: partindo de idéias, ao invés de partir de assuntos do cotidiano.
O fato é que Duchamp nunca foi um artista que atendia às expectativas da época.Começou a produzir no começo do século XX, e com o passar do tempo sua obra adquiriu características irônicas e contestadoras.
Tendo começado sua carreira como pintor, ele realizou obras que tinham características impressionistas, expressionistas e cubistas.


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Já nessa época, seu quadro Nu descendo a escada foi mal visto pelos cubistas, que o julgaram uma ironização da proposta cubista.
A obra de Duchamp conservou esse caráter questionador e insatisfeito com os padrões até o ponto em que Duchamp destruiu os padrões existentes até então. Ele fez um tipo de arte que não se enquadrava em nenhuma categoria. Os ready mades não são pintura, gravura e não são esculturas já que ele nem sequer os fez. Com esse ato, de designar um objeto fabricado em série como obra de arte, Duchamp expandiu os horizontes da arte contemporânea. Como disse Luiz Camillo Osório, professor de Estética e História da Arte na UFRJ, do Renascimento até Picasso as transformações artísticas se deram no interior de uma linguagem pictórica, de uma concepção histórica da forma e do objeto artístico. E a partir de Duchamp essa trajetória se alterou e tomou rumos que mudaram completamente a concepção de arte atual.
Como observou Octavio Paz, em seu livro “Marcel Duchamp ou o Castelo da Pureza”, “Picasso tornou visível o nosso século; Duchamp nos mostrou que todas as artes, sem excluir a dos olhos, nascem e terminam em uma zona invisível. À lucidez do instinto opôs o instinto da lucidez: o invisível não é obscuro nem misterioso, mas transparente”.

Esse gesto simples, mas impensado até então, fez com o mundo da arte se visse diante de duas reflexões extremamente importantes para a arte contemporânea: o que faz com que consideremos um objeto arte? Qual a importância do gesto do artista na obra de arte?

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Os ready mades se tornaram o elemento de destaque da produção de Duchamp. Entre os mais famosos e irônicos, podemos citar a obra L.H.O.O.Q. (sigla que, lida em francês, assemelha-se ao som da frase “Elle a chaud au cul”, que, traduzida para o português, significa “Ela tem fogo no rabo”), que é uma reprodução da Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, com um bigodinho.

Além disso Duchamp criou Madame Rrose Sélavy (cujo sobrenome se assemelha à expressão francesa “C’est la vie”, ou seja, “É a vida”, em português), uma artista irônica, assim como ele, que assinou uma parte dos ready mades.
Seria Madame Rrose Sélavy mais um ready made? O artista existe porque sua assinatura está em obras de arte que estão são reconhecidas pelo circuito artístico?
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Nesta foto, tirada por Man Ray, Duchamp aparece travestido de Rose Sélavy. Com esse tipo de obra de arte Duchamp tirava
o foco da criação artística da sociedade e seus problemas ou da representação fiel do modelo e coloca em questão o ato artístico.
Man Ray, pintor americano amigo de Duchamp disse em entrevista transcrita por Pierre Cabane, em “Marcel Duchamp: Engenheiro do tempo perdido”, “Não atribuo ao artista uma espécie de função social em que ele se acha obrigado a fazer qualquer coisa, em que tenha um dever para com o público. Tenho horror a todas essas considerações”.
De fato Duchamp tinha suas próprias questões, como o estudo dos problemas óticos. O estudo do olhar sobre a arte interessou muito a Duchamp, que se opunha àquilo que ele chamava de “arte retiniana”, ou seja, que agrada à vista, que foi feita para não incomodar, para satisfazer. Nesse sentido Duchamp o esforço de Duchamp era no sentido oposto, de levar o público a refletir a partir da confrontação com algo novo e inesperado. O objeto que era a obra de arte não tinha o propósito de ser alvo de uma contemplação, admiração, ele devia levar a uma reflexão, e essa reflexão era o objetivo da obra.
A base teórica do trabalho de Duchamp influenciou as gerações que o seguiram e foram fundamentais para a trajetória que a arte contemporânea seguiu, tornando-se propositiva e questionadora.
Movimentos artísticos como o Dadaísmo, o Surrealismo, o Expressionismo Abstrato e a Arte Conceitual foram muito influenciados por Duchamp. André Breton, artista surrealista, por várias vezes tentou fazer com que Duchamp aderisse à causa do movimento surrealista, Tristan Tzara, um dos responsáveis pelo Dadaísmo, também reconheceu na obra de Duchamp uma precursora.
No entanto uma das previsões de Duchamp não se concretizou: por diversas vezes ele disse que a pintura estava morta. Ao contrário, a pintura, assim como outras formas de arte, continua se inovando, incorporando formas de expressão e atraindo artistas inovadores como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Andy Warhol.
Em seu livro Destruição do pai, reconstrução do pai, Louise Bourgeois fala sobre o ato de criação “As conexões que faço em meu trabalho são conexões que não posso encarar. São na verdade conexões inconscientes. O artista tem o privilégio de estar em contato com seu inconsciente, e isso é realmente um dom. É a definição de sanidade. É a definição de auto-realização”. Como disse o próprio Duchamp, em entrevistas, ele queria inventar ou encontrar seu próprio caminho, em lugar de ser um mero intérprete de uma teoria, e conseguiu.

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