sábado, 2 de novembro de 2013

Atualidades:  A china sobre a crise e seu crescimento.                       O crescimento econômico dos países asiáticos e os sinais de saturação da economia americana criaram a possibilidade de se vislumbrar uma nova ordem econômica no planeta no século 21: o surgimento da China como maior potência mundial. Muito já se falou sobre o poder de fogo do "dragão chinês". Seu Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, avançou a taxas surpreendentes nas últimas três décadas, com percentuais acima de dois dígitos em alguns anos. Só entre 1992 e 2008, último período das reformas econômicas no país, o crescimento anual médio foi de 10,36%, com destaque para os 14,2% de 1992. A média do crescimento anual dos últimos 30 anos é de 9%, incluído o recorde de 15,2% de 1984. Mas os sinais recentes da desaceleração global, reforçados pela crise financeira iniciada nos Estados Unidos, principal parceiro comercial chinês, trouxeram dúvidas sobre o futuro do gigante asiático.

Com a economia extremamente aberta, a China figura entre os países mais globalizados e está exposta à crise e à desaceleração econômica dos últimos anos. Ainda cresce a taxas elevadas para os padrões mundiais de hoje. Fechou 2008 com 9% de expansão e foi guindada à condição de terceira maior economia mundial, com a revisão dos números de 2007. Ainda assim, os especialistas já não projetam mais, para os próximos anos, um vôo de cruzeiro para os chineses. Como o resto do mundo, prepara-se para um pouso suave. Mas ainda há riscos de um pouso forçado, manobra bastante arriscada para uma economia tão robusta.

Diante de um cenário de deflação em economias importantes, não é de se espantar o interesse dos países centrais pelo desempenho da China - gigante que puxou o crescimento mundial durante as últimas décadas até aqui, mais especialmente em meados dos anos 1980 e de 2005 para cá. Em 2003, voltou a alcançar 10%, e bateu em 13% em 2007 - depois de uma segunda revisão do número. Como principal pólo de crescimento, regional e global, o gigante asiático chama atenção para seu futuro. A manutenção do crescimento chinês em padrões que mantenham a atividade econômica em expansão será crucial para o futuro do planeta.

DESACELERAÇÃO O problema é que indicadores econômicos de 2008 também já apontam para uma desaceleração rápida da economia. No quarto trimestre do ano passado, o crescimento chinês deu uma freada brusca, caindo para 6,8% entre outubro e novembro, quase metade do ritmo do final de 2007. Analistas mais pessimistas apostam em um crescimento abaixo dos 7% para a China 2009. Estatísticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para uma taxa 6,7% de expansão para o PIB chinês, cenário ainda bastante positivo diante da projeção para a média mundial, de 0,5%, pior previsão do fundo em 60 anos.

Em tempos de crise, porém, nem mesmo o expressivo mercado interno chinês, de 500 milhões a 600 milhões de consumidores, será capaz de sustentar o crescimento do país em um cenário de desaceleração grave, diz o especialista em economias asiáticas e professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Moreira Cunha. Doutor em economia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e estudioso de temas como globalização e crises financeiras, Cunha não acredita que a China possa voltar a crescer a taxas anuais de dois dígitos. "A China não consegue manter um crescimento de 11% a 12% ao ano só com o mercado interno. Se o mundo inteiro cair junto com a região, especialmente países como Índia, Japão, Taiwan, a economia chinesa terá que fazer um pouso forçado, o que significa crescer algo como 5% ao ano, uma forte desaceleração", analisa. Ironicamente, a taxa do "nocaute" chinês em 2009 seria, no caso brasileiro, um avanço diante da expectativa de retração do crescimento por aqui. Comparações à parte, o termômetro da redução da expansão da China será exatamente a eficácia das medidas anticíclicas recentemente adotadas pelos líderes chineses, a exemplo do que fizeram países centrais e emergentes na tentativa de deter a contaminação do sistema financeiro e a falta de crédito para investimentos.

Em novembro, o Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou ao mercado pacote de estímulos fiscais de US$ 586 bilhões, pouco mais do que 17% do PIB chinês, de US$ 3,38 trilhões em 2007. O dinheiro deverá ser aplicado até 2010, com foco na sustentação da demanda interna. Terão prioridade, segundo o governo local, os investimentos em habitação de baixa renda, infraestrutura do setor rural, construção e reforma de ferrovias, aeroportos e estradas. Estão incluídos no pacote cerca de US$ 14 bilhões para a reconstrução das áreas atingidas pelo terremoto na província de Sishuan, em 2008.

Preocupado com a carga tributária do setor privado, o governo também anunciou redução de impostos para compra de máquina e equipamentos. Também imprimirá nova onda de subsídios para a agricultura e isenções fiscais para setores exportadores, além da ampliação do crédito, pelo Banco da China a todos os setores estimulados pelo pacote fiscal. "A questão é saber o timing das medidas. Além disso, os investimentos anunciados estão concentrados nas regiões mais pobres do país. Não se sabe se eles conseguirão absorver a mão-de-obra desempregada", alerta o professor da UFRGS.

EMERGENTES Antes da crise internacional, o último ciclo de crescimento da economia mundial, no intervalo entre 2003 e 2007, foi puxado pelos países emergentes, especificamente pela China. De acordo com estimativas do FMI, os chineses responderam por, pelo menos, um quarto da expansão do crescimento mundial no período, enquanto só as economias emergentes foram responsáveis por três quartos do crescimento médio de 5% ao ano. A expansão chinesa, com a consolidação de um mercado consumidor de 500 milhões a 600 milhões de pessoas, gerou demanda intensiva por alimentos, água, energia e matéria prima produzidas no planeta.

Sem dúvida, a rápida transformação por que passa a China, marcada principalmente pela migração de cerca de 1% da população, 13 milhões de pessoas, rumo às grandes cidades a cada ano, explica muito o fenômeno asiático. Para fazer frente a esse imenso mercado em formação, os investimentos vêm crescendo a taxas reais de 20% ao ano e uma relação que supera os 40% do PIB desde 2003. Não é de se estranhar que os chineses já são os maiores consumidores de celulares do mundo. E, em janeiro, a China assumiu a liderança também como maior mercado mundial de automóveis, posição ocupada antes pelos Estados Unidos.

Toda essa pujança significou rearranjo da economia do leste asiático. A China representa papel preponderante na propagação de investimentos na região. Entre os países emergentes, os chamados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) foi a nação que mais atraiu investimento externo direto (IED) desde 1990. Nos últimos anos, o gigante também passou a carrear investimentos, US$ 11 bilhões em 2005, para o exterior, principalmente para sua periferia. A China transformou-se, sem dúvida, no centro dinâmico da economia da Ásia, com papel catalisador preponderante.
A extensa rede de relações comerciais e financeiras garante uma situação privilegiada para a região. Incluindo o Japão, mais de 40% das exportações dos países asiáticos em desenvolvimento têm como destino a própria Ásia, a metade para a China. Confirma a supremacia do "dragão" o fato de que os chineses conseguem manter os Estados Unidos como destino de suas exportações, enquanto os vizinhos perdem espaço. O fenômeno pode ser o reflexo de outro movimento: a China vem aumentando importações de matérias-primas e componentes industrializados em sua região e, na outra ponta, elevando a exportação de produtos finais para os EUA. O gigante asiático já ocupou o papel de centro regional. Catalisa as economias da região para seu projeto exportador.       

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