terça-feira, 10 de julho de 2012

Eleições na França Reflexos da crise


O líder socialista François Hollande derrotou Nicolas Sarkozy e foi eleito presidente da França com 52% dos votos contra 48% de seu adversário. O retorno da esquerda francesa ao poder é resultado da crise financeira de 2008 e terá repercussões políticas e econômicas em toda a Europa.


Direto ao ponto: Ficha-resumo

Hollande venceu as eleições com um discurso contrário aos pacotes de austeridade, que reduziram os gastos dos Estados mediante aumento de impostos e cortes em benefícios sociais. Essa política gerou descontentamento entre os europeus, que responderam nas urnas derrubando governos em todo o continente. A queda nos índices de popularidade afetou também Sarkozy, que ocupava o cargo desde 2007.

A França é hoje um país com baixo crescimento econômico (estimado em 0,5% para este ano), taxas de 10% de desemprego e uma dívida pública de 85% do PIB(Produto Interno Bruto).

Segundo Hollande, os acordos de redução da dívida pública impedem o desenvolvimento da economia do país. Para retomar o crescimento, ele prometeu aumentar impostos dos mais ricos e das grandes empresas do país e, assim, gerar receita para elevar o valor do salário-mínimo e criar ofertas de empregos para os jovens.

Ele também quer reduzir a idade de aposentadoria de 62 para 60 anos, revertendo o efeito de um projeto de lei do governo Sarkozy que provocou manifestações populares. O envelhecimento da população é uma das maiores causas do aumento dos gastos públicos, em razão do pagamento de pensões.

Mas o maior desafio de Hollande será convencer a chanceler alemã Angela Merkel a renegociar o pacto fiscal, firmado entre 25 dos 27 países que compõem a União Europeia para conter as consequências da crise global.

Para o presidente francês eleito, agora são necessárias medidas econômicas de estímulo ao crescimento. A França é a segunda maior economia do bloco, atrás somente da Alemanha, que resiste, até agora, à proposta do líder francês.

Como a Europa chegou nesse impasse?
 


Pacto de austeridade

Após a crise de 2008, os governos tiveram que salvar instituições financeiras do colapso. Com isso, aumentaram as dívidas públicas, que já eram elevadas, ao mesmo tempo em que a arrecadação de impostos caiu, em consequência do desemprego. O caso mais grave aconteceu na Grécia, onde o tamanho da dívida quase levou o país à falência.

Nesse contexto, o que antes representava uma força, a moeda única, tornou-se um ponto fraco: a crise de um país afeta todo o bloco.

Por isso, a União Européia, tendo à frente Sarkozy e Merkel, decidiu pôr em prática medidas de austeridade. Trata-se de um conjunto de metas de redução dos gastos dos governos para equilibrar as contas domésticas (o quanto o país arrecada x o quanto gasta).

Os pacotes obrigaram os governos a serem mais rígidos no controle de suas despesas e trouxeram de volta a confiança do mercado financeiro. Por outro lado, tornaram-se extremamente impopulares, por conta da redução de ganhos de funcionários públicos e aposentados; do aumento dos impostos; e dos cortes de benefícios, como seguro-desemprego, e de serviços públicos, como educação e saúde.

Por isso os franceses apostaram em Hollande, que quer rever o pacto estabelecido na Zona do Euro.
 


Direita

François Hollande é o segundo socialista a ocupar a Presidência na Quinta República francesa, instaurada em 1958. O primeiro foi François Mitterrand, que governou de 1981 a 1995. Hollande foi escolhido candidato pela oposição após a candidatura de Dominique Strauss-Kahn ter desmoronado, por causa do escândalo sexual envolvendo o ex-diretor do FMI.

A vitória do socialista é importante também em razão do peso político da França no continente europeu. O país exerce uma hegemonia política, econômica e cultural na Europa e no mundo há séculos.

Desde o início da crise os sociais-democratas encolheram na Europa, que viu renascer uma onda de partidos de direita e extrema-direita. No continente que fundou o modelo do Estado do Bem-estar Social, hoje a tendência socialista vigora em apenas cinco países – Dinamarca, Áustria, Bélgica, Eslovência e Chipre – que juntos possuem apenas 5% da população europeia.

Em junho haverá eleições parlamentares na França, onde, mais uma vez, as ideologias e o futuro econômico da Europa estarão em pauta.

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