Cinco décadas após a onda de golpes que varreu o subcontinente, os sul-americanos assistiram ao golpe parlamentar que tirou o presidente do Paraguai, legitimamente eleito, do poder no dia 22 de junho de 2012, a menos de um ano da convocação das novas eleições presidenciais, marcadas para abril de 2013. O ato gerou o temor de que a experiência “bem sucedida” pudesse ser repetida em outros países como Bolívia, Equador e Venezuela, principalmente.
Protesto contra o golpe parlamentar que destituiu o presidente legitimamente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, em junho
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O massacre, no qual morreram 17 pessoas, entre camponeses e policiais, continua sem solução. O atual presidente, Federico Franco, do Partido Liberal, que compunha a base aliada de Lugo, não tem demonstrado interesse em apurar o caso. Uma investigação alternativa provou que a matança foi provocada por atiradores de elite. Com base no exame de balística foi possível comprovar que os disparos não foram feitos pelas armas de posse dos camponeses. Ainda assim, um promotor condenou 14 trabalhadores rurais pelas mortes.
Para evitar precedentes e garantir que as eleições de 2013 sejam realizadas de maneira transparente e democrática, organismos regionais como o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) suspenderam a participação do Paraguai até a volta da normalidade institucional. Assinado por Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru, o texto que suspende o país do Mercosul enfatiza que "a plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento do processo de integração".
A suspensão do país do Mercosul garantiu à Venezuela o ingresso como membro pleno do bloco. As negociações para sua adesão total levaram seis anos. Os parlamentos de Brasil, Argentina, Venezuela e Uruguai já haviam respaldado a entrada do país no bloco, que era impedida pelo Senado paraguaio, que, de acordo com Samuel Pinheiro Guimarães, fazia o jogo da política norte-americana na América do Sul.
A realização das eleições em 2013 gera expectativas. O Estado paraguaio não consentiu a presença da missão de observadores da Unasul, mas mesmo assim a Justiça eleitoral do Paraguai aceitou e a Unasul se somará à OEA, à União Europeia e ao Centro Jimmy Carter, estes três últimos convidados oficialmente pelo governo. Disputarão a presidência: Horacio Cartes, candidato do Partido Colorado; Efraín Alegre, candidato do partido Liberal; Lino Oviedo, do partido Unace; e pela esquerda, estarão na disputa: Mario Ferreiro, nomeado pelo movimento Avança País e Aníbal Carrillo, candidato da Frente Guasú de Lugo.
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