Na serra mineira, Inhotim é complexo de arte cercado de verde
MARÍLIA MIRAGAIA
da Revista da Folha
A fazenda de "Nhô" Tim não existe mais. A propriedade localizada a 60 km
de Belo Horizonte, no município de Brumadinho, ganhou ares de museu a
céu aberto.
Cercado por serras, onde imperam, à noite, brumas, o cenário mineiro
hoje abriga o Instituto Inhotim, que preserva o nome do antigo
proprietário. Aberto ao público desde o fim de 2006, o espaço cultural
viu florescer dez galerias de arte contemporânea, que se espalham por
645 hectares de uma extasiante paisagem.
Roberto Murta/Divulgação
Jardins de Inhotim ainda preservam traços de Burle Marx, cujo centenário de nascimento é em agosto
Nomes fundamentais da produção brasileira, como Cildo Meireles e Tunga, e
destaques do panorama mundial, como Victor Grippo e Matthew Barney,
foram parar no interior das Gerais.
Tudo começou quando o colecionador Bernardo Paz doou parte de seu acervo
para o que hoje se converteu em um complexo museológico. O projeto está
de pé com a curadoria de Allan Schwartzman, Jochen Volz (cocurador da
53ª Bienal de Veneza) e Rodrigo Moura (curador da Paralela 2008).
No cenário, ainda há traços das curvas do projeto original de Burle Marx
(1909- 1994), além de uma coleção botânica com mais de 2.100 espécies,
que conserva trechos de mata nativa.
Árvores, como um gigantesco tamboril, convivem com atrações como a "Magic Square # 5", criação de Hélio Oiticica (1937-1980).
Carlos Reis/Divulgação
Praça com altas paredes com cores contrastantes foi feita a partir do projeto de Hélio Oiticica "Magig Square # 5"
Separados por alamedas e lagos, estão instalações como as de Janet
Cardiff e de Doris Salcedo, que incitam sensações controversas em seus
visitantes.
A primeira, "Forty Part Motet", é sublime. Em uma sala, 40 pequenas
caixas acústicas reproduzem o coro da catedral de Salisbury, que entoa
uma composição de 1575. Já "Neither", da colombiana Doris Salcedo,
oferece uma experiência asfixiante e vertiginosa. Em seu cômodo
completamente branco, paredes revestidas por grades e gesso remetem à
opressão de um campo de concentração.
Apesar de seu tamanho colossal, Inhotim não tem placas: cada visitante
descobre sua maneira própria de aproveitar o lugar. Por ali já passou,
por exemplo, uma excursão de freiras. "Ficamos impressionados.
Elas se relacionaram muito bem com as obras", conta Maria Eugênia
Repolês, 27, educadora pós-graduada na Escola Guignard (MG), que formou
Amilcar de Castro (1920-2002).
Ao passar por uma instalação -um globo que em seu interior tem uma fonte
de água iluminada por raios de luz estroboscópica-, as visitantes
tomaram um "banho de arte". "As freiras brincaram e saíram molhadas",
relata a funcionária.
Crianças também são bem-vindas. Certa vez, um grupo delas se recusou a
entrar na instalação "Através", de Cildo Meireles, um conjunto formado
por barreiras de diversos materiais sob um chão de vidro estilhaçado.
Mas, depois, surpreenderam os monitores interagindo com as obras e
provando que arte não é só para ver.
Carlos Reis/Divulgação
Em sua obra "True Rouge", pernambucano Tunga exibe diversos materiais tingidos em tons de vermelho
Inhotim, é um espaço contrastante em meio a uma metrópole, que nos possibilita sentir diversas sensações com obras e galerias planejadas por excelentes artistas, além do contato constante com a natureza... Um ótimo lugar!
ResponderExcluir(Comentário feito por Sabrina Pavlovic, aluna do F9A)